domingo, 18 de agosto de 2013

O homem mínimo

imagem: http://www.meghanhowland.com/


Tudo estava silencioso, como acontecia com frequência. Eu encarava a tela do computador, lendo as atualizações e se convencendo de que nada daquilo me interessava. Pensava que ou as pessoas publicavam demais sobre suas rotinas ou era eu que estava parado no tempo. Entretanto, um turbilhão de pensamentos e emoções batiam no meu conjunto de ossos e carne, reverberando sobre mim.

Meu corpo é uma prisão. Uma prisão que eu não consigo achar a chave.

Uma série de eventos aconteceram e me deixou do modo como estava naquele momento: Todas as tentativas que usei para manter seu interesse na vida acadêmica somente tiveram como efeito diminuir minha satisfação, gerando o afastamento da turma que havia pego o gosto da convivência, mesmo as vezes não expressando isso. Meus amigos estavam afastados, seja por eu ter me afastado por não haver reciprocidade de forma geral, por de certa forma não ser verdade quando insistiam se importar ou mesmo pelo fator da vida de faze-los ficarem ocupados com coisas mais importantes. Eu também me ocupei.
O cansaço com relacionamentos chegou a um ponto onde não pretendia mais correr atrás de ninguém, não tentar impressionar, ficar entrando em contato e começar conversas. Eu só estava ali.

As vezes não. As vezes nem estava mais em lugar algum.

Nos dias anteriores, voltando do trabalho de bicicleta, se aproximou da parte arborizada da universidade e estacionou sua bicicleta próxima a uma árvore, tirou a camisa e sentado, encostou suas costas em um tronco. Tudo estava silencioso naquele começo de tarde onde não havia ninguém. Não havia ninguém, só árvores, sua bicicleta, sua mochila e eu. Olhava de canto de olho para tudo ao redor e pensava que a natureza não fazia parte da sua rotina e toda aquela respiração das árvores me deixava curioso. Por fim, dormi.

Não tinha mais o que ouvir, não procurava músicas novas e ficava horas ouvindo meu set de música popular brasileira de setenta e bandas de instrumental post-rock. A música reverberava em mim também, como tudo o que tinha dentro de mim. A dor da memória também era uma emoção e me doía o tempo inteiro.

E noite passada, eu ouvi essas palavras:

- Você é um homem mínimo, Eduardo. Você não se veste desleixado, mas também não se veste pra impressionar. Suas ações, suas postagens no tumblr, no twitter, no facebook e até o jeito que você fala é mínimo! Você só pretende o essencial...isso é bonito.

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Em outra noite, eu li essas palavras:

- Edu, quando te vi dando a entrevista para a Rê vc foi minha lagarta listrada pela primeira vez. Eu não podia te tocar. Mas estava completamente maravilhada, como uma criança ao ver algo incrível pela primeira vez.
e por mais que eu pense em vc o tempo todo
sempre que penso...

parece a primeira vez, fico maravilhada.

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Três meses atrás, alguém tinha se apaixonado por mim.

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Mais meses atrás eu ouvi essas palavras:

- Ah, deixa disso

e então ela passou os dedos sobre o meu rosto. Eu fechei os olhos sentindo a direção que eles seguiam

- Vai ficar tudo bem.
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Em uma viagem há sete meses, eu ouvi um mendigo dizer:

- E me despedindo de suas palavras, Eis que vem o amém.
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Há um ano estávamos apaixonados.