segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Pare o mundo, Gerimundo, deixa o garoto falar!

- Má, vai dizer que ele fez isso mesmo?
- Digo sim, porque não?
- Porque é só mais uma dessas histórias sem cabeça.
- Mas meu senhor, eu sou segurança de festa, história eu tenho pra contar por três vidas!
- Então conta direito, má!
- Conto sim senhor. Agora venha cá.

E lá para o segundo andar guiou Gerimundo, o segurança de festas onde ninguém sabe dançar pole dance como ele gostaria de testemunhar um dia...pelo menos nos dias de trabalho.

Tudo havia acontecido naquele andar ou pelo menos a parte mais importante. Gerimundo presenciava com frequência pegações em festas, sempre intervindo quando achava que os limites de seu bom senso estavam sendo ultrapassados. Não pensava quantos anos o macho parecia ter, se era alto ou magro, branco preto ou amarelo, vinha sem discurso pegando no ombro do camarada e soltando no ouvido a famosa frase:

- Vai com calma ai, garotão, aqui não é lugar pra isso não.

Se insistisse com Gerimundo, não tinha papo, ele só escultava até o final e fazia seu ponto ficar mais claro do que já estava antes. Com poucos o nosso caro vigia simpatizava.

- Pois bem, estava tudo como sempre é nessas edições. Garotos bêbados insistindo em não dever nada em comandas cobrando centenas de reais, vômitos, garotas levantando blusas e mostrando seus sutiãs em corpos suados e mais uma vez a minha paciência sendo testada por ter concordado com a produção em emprestar a minha piscina. To tapando buraco de plástico até hoje!
- Eu nem vou comentar.
- E lá estavam eles, um casal com intenções mais claras que flash de foto. Não escondiam o que faziam, isso não...
- E o que faziam, Gerimundo?
- A garota estava louca, senhor, louca na mão desse marmanjo! E quando eu digo isso, leve de forma mais literal que você queira imaginar. - Dizia Gerimundo ao fazer movimentos rápidos de vai e vem com o braço levantando dois dedos - E ele estava lá mantendo a maior discrição possível, olhando pro lado para ver se eu virava e ia embora. Diabos que eu fui!
- Não vai me dizer que...
- Eu fiquei olhando, durante um tempo...o tempo mais que necessário pra saber que estava olhando demais naquela noite. Eita garoto de sorte! Aquela garota não era de se jogar fora, isso de jeito nenhum...hm. Pois bem, acabou a festa e aparece na porta da Starnight pedindo pra entrar de novo. Não tinha mais ninguém aqui.
- Porquê?
- Esse filho da puta veio todo educadinho, mesmo eu percebendo que tinha bebido, mas não o suficiente pra não se manter na postura. Disse que precisava entrar novamente para procurar um brinco e que ficava...
- Calma ai, calma ai. Um brinco?
- UM! Nem um par era! Achava que ele tinha perdido a cabeça e que talvez estivesse bêbado e eu não percebi, que iria logo embora sem fazer bagunça. Deixei ele entrar para procurar um brinco já falando o óbvio. Ele não ia achar essa porra nem se ficasse uma semana lá.
- Má.
- Fui resolver um problema que deu no bar. Três jovens totalmente bêbados estavam com uma conta de duzentos e quarenta e quatro reais para pagar e não tinham um tostão. Dona Renata havia terminado o seu turno e já estava pronta para ir, esperando sua carona ficar livre também. O garoto olhava para a dona, depois para os jovens e ria da situação, mas dificilmente tirava os olhos do chão, de vez em quando agachando e procurando alguma coisa que pudesse brilhar no tapete. Até vi umas duas vezes ele achando moedinhas.
- Ele era namorado dela é?
- Disse ele que sim, quero acreditar que é, não é possível que tenha feito isso se não fosse alguma coisa. Vai que só queria uma boa trepada, mostrar que achou o brinco pra meter no...
- Tá citando Buwoski agora é? Porra, continua!
- Muito pulp! Ele passava do meu lado algumas vezes e eu dizia que ele tava perdendo o tempo dele. Passou uma vez para procurar pelo lado de fora, depois entrou e procurou no lado de dentro. Sabe quanto tempo ficou nisso? Cinquenta minutos! Por fim eu desisti de aconselhar, já tava indo embora mesmo. Fizesse o que quisesse! Deixei subir para o segundo andar, onde nós estamos agora.
- O que tem de tão...
- Deixa eu terminar, já te adianto que o desgraçado achou o brinco.
- Uma porra que achou.
- Ele me mostrou todo sorridente, como se tivesse achado ouro! Dizia o quanto era importante para ela e que precisava achar, alguma coisa com o avó, não sei.
- Será que isso quer dizer algo, Gerimundo?
- Quer dizer que ele é um filho de uma puta, isso sim. Que sortudo.

Gerimundo continuou com xingamentos, não sabia nem mais para quem, só estava agitado depois dessa noite. Aquelas noites em que você empresta sua piscina para bêbado pular.

Ninguém sabe o que aconteceu com o casal do brinco.