quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Pornografia é arte?

"Você não procura pornografia, pornografia procura você"

Uma pessoa que tem um número considerável de contas ou pelo menos usa redes sociais uma vez ou outra, por mais seletivo que seja quanto a quem adicionar em seu ciclo de amigos, vai se deparar com conteúdo pornográfico. Nessa semana mesmo eu decidi verificar o twitter de um amigo, onde ele deu retweet em um pequeno gif de uma mulher chupando a outra em uma cama. No twitter!

Claro que para muitas pessoas isso passa longe de uma surpresa. A convivência com a pornografia frequentemente deixa de ser pela procura de algo que desperte o desejo para aquela casual (ou não tão casual assim) esbarrada em alguma foto na sua dash, onde você continua rolando a página como se fosse natural ter nudez na sua tela.

E mesmo com o frequente encontro com esse conteúdo, ainda há uma censura forte nos chamados trabalhos artísticos pornográficos.

E isso me faz pensar, pornografia pode ser arte? Ela é arte?

Hoje temos vários exemplos que vão além dos livros: trabalhos fotográficos, filmes, teatro e ilustração (talvez o principal) trabalham com pornografia (para algumas referências, veja esse artigo)

Imagem do filme, que aparentemente existe e não é o único sobre o livro
Em 2012 (quando eu podia chamar com mais certeza esse lugar de blog) eu li um livro chamado O amante de Lady Chatterley, de D. H. Lawrence escrito no século XX. Lady Chatterley foi um livro cujo destaque era o detalhamento das relações sexuais entre Constance Chatterley e o Mellors, o guarda caça de Clifford, esposo de Constance. Ele é um livro incrível, abrangendo temas não só sobre desejo, corpo mas sim aspectos sociais de relacionamento entre duas pessoas de classes diferentes e outros pensamentos da época, como você pode ver nos dois capítulos que eu coloquei
 aqui e aqui.



Capa do livro que eu tenho
O curioso é que o livro foi lançado em 1926 e não demorou muito para ser considerado na época um dos livros britânicos mais obscenos e censurados.
Este livro é um exemplo que eu pego para pensar pornografia como arte ou não, por o conteúdo dentro dessas páginas ser claramente pornográfico. Ainda assim, após alguns anos depois da morte de Lawrence, Lady Chatterley saiu de um dos livros proibidos e censurados da Inglaterra para o top 100 de melhores livros românticos. 

Uma coisa que eu acho engraçado é que eu já vi muita gente e muito artigo falar que esse é um livro erótico. Discordo o uso desse termo e acho que ele tenta amenizar para não dizer que ele vai além do erotismo (sedução verbal e não-verbal) e sim para a descrição explicita de sexo (porno), usando palavras não utilizadas na época como "penetração", "gozo" entre outras.





Claro, se eu fosse falar disso, ai seria um longo papo de erotismo vs pornografia que iria ter vários exemplos de censura e polêmicas.




terça-feira, 14 de outubro de 2014

Sobre a comunidade e arte

Em tempos onde o indivíduo não vê como prioritário o interesse em se relacionar e conhecer os acontecimentos das pessoas ao redor de sua moradia (prédio, casa, vizinhança etc), voltando seus olhos para atividades rotineiras de tal forma que sua execução se torna automática e não dando atenção as dinâmicas e vivências humanas. Nesses tempos, creio que o conceito de comunidade tem sido um debate muito proveitoso para ver se ele é de fato relevante.

O que é a comunidade para mim?

Comunidade é conexão, começando pela simples troca de palavras até formar grupos de características semelhantes, seja por interesse, localidade ou os dois.
Conexão gera interação, onde a troca de palavras entre duas ou mais pessoas gera ideias.

Ideias geram abertura para mudanças, questionando padrões, lock-ins e problemas locais, abrindo espaço para discussão e possível reação pela vontade de mudar. Ideias expressam a vontade do ser humano que, em sincronia com a comunidade, melhoram a qualidade social de seu grupo e/ou local.

Expressão por meio de criação para comunicar suas ideias através dos sentidos é arte. Arte tem o poder de expressão, se bem executado, para além da comunicação verbal de um indivíduo, propagando suas ideais.

Todo esse processo gera um encadeamento em repetição, que se alimenta do início ao fim. Ou seja, um sistema de comunicação humano aumentando de escala para escala. Um sistema complexo (logo, sem central de controle).

Quanto aos fatores que interferem nas relações desse sistema, por agora está além de mim refletir de forma mais concreta sobre. Até porque não há muito além desse texto a não ser minha subjetividade.

Creio que as artes como forma de expressão não é necessária, mas sim essencial para o desenvolvimento de uma comunidade local mais complexa com indivíduos ligados não só a um, mas vários interesses.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Pessoas perdidas e ideias (parte 1)

Senhor Ivaldo é uma pessoa que eu nuca pude ter um contato muito próximo. De fato, o contato mais próximo que eu tive com ele foi quando eu escorreguei no piso de pedra de sua casa e cai na piscina, sendo afogado pela água que saia de um chafariz em formato de boca de dragão...

Bem bizarro lembrar disso agora.

O importante é lembrar que o contato mais próximo foi o Ivaldo deixar de beber a sua cerveja na mesa pra falar:

"HAHAHAHAHHAHA, olha teu filho Jorge! Segura o garoto".


Tá, talvez não tenha sido desse jeito nesses detalhes, mas eu gosto de pensar que foi assim.

Outra característica do Ivaldo tirando o seu senso de humor era o seu excelente senso de direção enquanto bêbado. Uma vez, em 1977, bebendo junto com o meu pai na época de carnaval em uma cidade do interior de Pará chamado Bragança, Ivaldo, já bêbado, recebe uma ligação de seus colegas de trabalho dizendo que estavam bebendo em uma cidade que ficava a uma hora de distância. "Tô indo" disse ele.

Então lá foi o senhor Ivaldo e meu pai, saindo de Bragança para a cidade que tinha o carnaval mais pesado do  interior do estado, chamada Vigia. Detalhe: Como todo típico interior, a iluminação é praticamente inexistente no caminho de uma cidade para outra, principalmente quando a rua não é uma rodovia que é utilizada pelos caminhões ou qualquer outro meio comercial.

Eram mais de dez horas da noite. Meu pai então lembra que o carro que eles foram era um Chevrolet Chevette que estava passando pelos seus últimos momentos de vida para ser dirigido. Não é a toa que o carro nos primeiros minutos de viagem apagou uma luz do farol. O que já estava escuro ficou impossível de ser visto

Você acha que isso abalou o senhor Ivaldo? Pode ter certeza que não.

Mas é claro que ele não esperava que todas as luzes do carro, inclusive as luzes do painel, apagassem também.

Agora imagine a situação, caro leitor. Você, um paraense totalmente bêbado viajando para outra cidade com o único objetivo de beber mais, em uma estrada escura sendo iluminada pela luz da lua, com o carro totalmente apagado rodando com pneus carecas e sons que só poderiam significar que o carro tinha problemas. E agora, você acha que isso preocupou o senhor Ivaldo?

É claro que não, nada preocupava o senhor Ivaldo! De alguma forma, de alguma forma ele dirigiu a viagem inteira NO RUMO CERTO. Como? Meu pai diz que isso foi a mão divina, que inclusive fez o favor de acender de volta uma luz do farol (e nada mais). Mas quem precisa de faróis quando consegue dirigir sem luz nenhuma, não é mesmo?

Chegando no município de Vigia, utilizando seu senso de orientação em uma cidade cheia de pessoas em época de carnaval, ele consegue achar o grupo que eu gosto de pensar como "grupo de biriteiros." Depois de ter passado por todo o aperto de dirigir perigosamente por uma hora, não consigo imaginar falta de motivos para o meu pai não ter bebido mais um pouco naquela época.

E eu imagino eles cantando o hino:

Tu és, Vigia, guardiã do norte,
Um município – de outros, matriz
E novo lar para tantos que chegam.
Possuis amor e progresso. És feliz. AE!

Alias, falta de motivos não poderia mesmo existir quando apareceu um caboclo de Belém no meio do carnaval pedindo bebidas mesmo já estando bem alterado. Recebendo um não como resposta, o caboclo se invoca e tira de algum lugar um terçado, deixando todo o grupo assustado.

Para você que não é do Norte e não tem a menor ideia do que é um terçado, é essa ferramenta:


...
E acredite, é BEM grande.

Então após ameaças e frustrações por não poder beber, aparece Ivaldo com um instrumento que pela descrição do meu pai imagino que seja um atabaque, jogando no caboclo. Enquanto os biriteiros saem correndo, Senhor Ivaldo para e fala:

- Porra, acho que minhas chaves foram junto!

Eles voltam no lugar e começam a procurar por alguns minutos até achar o par de chaves perto de uma barraquinha vazia. Pensando no esforço que teve que fazer, somente agora Ivaldo fica furioso com a situação que passou com o caboclo e decide ir na delegacia às três da manhã para registrar uma queixa! Mas caro leitor, Belém é uma cidade cheia de curiosidades e mistérios. É claro que ao conseguir novamente provar que o seu estado alcoólico não podia enganar sua direção e o fazer chegar na delegacia com todo o grupo, ele somente encontrou com o local com as portas fechadas. Ivaldo, pessoa bêbada que deveria ter sido presa por dirigir e mais ainda, por chamar aquele veículo de meio de transporte, começou a usar as suas habilidades de boxeador para chutar e dar socos na porta da delegacia de polícia.

E assim fica registrado.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Pare o mundo, Gerimundo, deixa o garoto falar!

- Má, vai dizer que ele fez isso mesmo?
- Digo sim, porque não?
- Porque é só mais uma dessas histórias sem cabeça.
- Mas meu senhor, eu sou segurança de festa, história eu tenho pra contar por três vidas!
- Então conta direito, má!
- Conto sim senhor. Agora venha cá.

E lá para o segundo andar guiou Gerimundo, o segurança de festas onde ninguém sabe dançar pole dance como ele gostaria de testemunhar um dia...pelo menos nos dias de trabalho.

Tudo havia acontecido naquele andar ou pelo menos a parte mais importante. Gerimundo presenciava com frequência pegações em festas, sempre intervindo quando achava que os limites de seu bom senso estavam sendo ultrapassados. Não pensava quantos anos o macho parecia ter, se era alto ou magro, branco preto ou amarelo, vinha sem discurso pegando no ombro do camarada e soltando no ouvido a famosa frase:

- Vai com calma ai, garotão, aqui não é lugar pra isso não.

Se insistisse com Gerimundo, não tinha papo, ele só escultava até o final e fazia seu ponto ficar mais claro do que já estava antes. Com poucos o nosso caro vigia simpatizava.

- Pois bem, estava tudo como sempre é nessas edições. Garotos bêbados insistindo em não dever nada em comandas cobrando centenas de reais, vômitos, garotas levantando blusas e mostrando seus sutiãs em corpos suados e mais uma vez a minha paciência sendo testada por ter concordado com a produção em emprestar a minha piscina. To tapando buraco de plástico até hoje!
- Eu nem vou comentar.
- E lá estavam eles, um casal com intenções mais claras que flash de foto. Não escondiam o que faziam, isso não...
- E o que faziam, Gerimundo?
- A garota estava louca, senhor, louca na mão desse marmanjo! E quando eu digo isso, leve de forma mais literal que você queira imaginar. - Dizia Gerimundo ao fazer movimentos rápidos de vai e vem com o braço levantando dois dedos - E ele estava lá mantendo a maior discrição possível, olhando pro lado para ver se eu virava e ia embora. Diabos que eu fui!
- Não vai me dizer que...
- Eu fiquei olhando, durante um tempo...o tempo mais que necessário pra saber que estava olhando demais naquela noite. Eita garoto de sorte! Aquela garota não era de se jogar fora, isso de jeito nenhum...hm. Pois bem, acabou a festa e aparece na porta da Starnight pedindo pra entrar de novo. Não tinha mais ninguém aqui.
- Porquê?
- Esse filho da puta veio todo educadinho, mesmo eu percebendo que tinha bebido, mas não o suficiente pra não se manter na postura. Disse que precisava entrar novamente para procurar um brinco e que ficava...
- Calma ai, calma ai. Um brinco?
- UM! Nem um par era! Achava que ele tinha perdido a cabeça e que talvez estivesse bêbado e eu não percebi, que iria logo embora sem fazer bagunça. Deixei ele entrar para procurar um brinco já falando o óbvio. Ele não ia achar essa porra nem se ficasse uma semana lá.
- Má.
- Fui resolver um problema que deu no bar. Três jovens totalmente bêbados estavam com uma conta de duzentos e quarenta e quatro reais para pagar e não tinham um tostão. Dona Renata havia terminado o seu turno e já estava pronta para ir, esperando sua carona ficar livre também. O garoto olhava para a dona, depois para os jovens e ria da situação, mas dificilmente tirava os olhos do chão, de vez em quando agachando e procurando alguma coisa que pudesse brilhar no tapete. Até vi umas duas vezes ele achando moedinhas.
- Ele era namorado dela é?
- Disse ele que sim, quero acreditar que é, não é possível que tenha feito isso se não fosse alguma coisa. Vai que só queria uma boa trepada, mostrar que achou o brinco pra meter no...
- Tá citando Buwoski agora é? Porra, continua!
- Muito pulp! Ele passava do meu lado algumas vezes e eu dizia que ele tava perdendo o tempo dele. Passou uma vez para procurar pelo lado de fora, depois entrou e procurou no lado de dentro. Sabe quanto tempo ficou nisso? Cinquenta minutos! Por fim eu desisti de aconselhar, já tava indo embora mesmo. Fizesse o que quisesse! Deixei subir para o segundo andar, onde nós estamos agora.
- O que tem de tão...
- Deixa eu terminar, já te adianto que o desgraçado achou o brinco.
- Uma porra que achou.
- Ele me mostrou todo sorridente, como se tivesse achado ouro! Dizia o quanto era importante para ela e que precisava achar, alguma coisa com o avó, não sei.
- Será que isso quer dizer algo, Gerimundo?
- Quer dizer que ele é um filho de uma puta, isso sim. Que sortudo.

Gerimundo continuou com xingamentos, não sabia nem mais para quem, só estava agitado depois dessa noite. Aquelas noites em que você empresta sua piscina para bêbado pular.

Ninguém sabe o que aconteceu com o casal do brinco.