domingo, 25 de janeiro de 2015

sábado, 24 de janeiro de 2015

Passou-se.

- Isso vai passar - disse ele para si mesmo.

Meses correram após essa frase. Aniversários não foram comemorados, datas especiais foram deixadas de lado, frases bem feitas perderam o efeito.

Ele olhou os meses correrem e disse: Passou.

O esquecimento é tão constante para uma vida tão breve. É triste. Me impressiona como os artistas da palavra conseguem beleza disto. Não é bonito na realidade.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Primeira viagem de metrô

- Olha, que legal! Olha, que legal! Olha, que legal! - repetia a criança entusiasmada olhando para a janela que revelava o subsolo da estação do metrô. Eu olhava distraído no relógio esperando a hora passar quando ouviu essa repetição no mínimo mais de cinco vezes, seguia depois de um:

- Olha, que irado! Olha, que irado! Olha, que irado!

Na sinceridade de uma criança contando uma experiência, ele me disse:

- Eu nunca andei de metrô.

E me olhando bem a fundo, ele me pergunta:

- É legal?

Comecei a gaguejar pelo tamanho da surpresa que me engasgava. respondia "é bem legal." e via como ele ficava animado em perguntar mais e tentar ter uma ideia do incrível momento que iria viver daqui a alguns minutos:

- Você já andou de metrô? Como é? Tem muita gente?

- Nesse horário não, mas geralmente é bem cheio.

- Eu vou pra Estação Shopping, é longe?

- Não não - respondia.

Ele voltou a olhar para a janela do subsolo. Sua cabeça devia imaginar um milhão de coisas por segundo: Qual lado eu vou pegar? Como será que entra? Ele vai rápido? Vai devagar?

E então, depois de ter recuperado uma boa porção de ar, eu digo sem ele esperar:

- Tenta ficar na janela.

Pra quê. O garoto ligou um farol de luz pelos olhos. "Ficar na janela? O que tem lá? É melhor do que não ficar na janela???". Essas eram as perguntas que davam pra ler só pelo modo como seu corpo se movia.

Ele por fim, pergunta, antes de sua vó lhe chamar após ter esperado a fila e ter comprado as passagens:

- Faz tempo que você andou de metrô pela primeira vez?

- Faz - respondi - eu era do seu tamanho. Hoje nem lembro como foi na época, mas...foi bem legal.

O garoto seguiu os passos de sua avó, passou pela catraca e seguiu o seu destino. Eu lacrimejei bastante sem nenhum motivo claro naquele momento. Fiquei no meu posto e vi o metrô passar. O garoto foi, eu fiquei.


sábado, 3 de janeiro de 2015

Acordar nunca foi um ato tão horrível a ser feito. Respirar nunca foi tão sufocante e meu peito raramente doeu da forma que doí nesses dias.

Eu fiquei me perguntando ontem:
- O que fazer quando você cai? Quando a sua queda foi tão repentina, seu corpo é muito pesado e o chão encontra seu rosto com a vergonha gélida. Quando uma das atitudes que você mais acredita que não deviam mais existir no mundo se manifesta na própria carne?

- O que você faz quando caí?
Alguns tentam se levantar.

Mas é difícil. É difícil por várias razões. Pra onde olhar quando você levantar seu rosto? Pra onde eu deveria ir agora? E mesmo se eu pudesse andar, eu deveria andar o caminho que sempre quis depois de uma tragédia?

Poderia eu pensar que o caminho que eu idealizei não me quer mais. Que eu talvez não fosse mais merecedor do que sempre quis.

...

É uma queda. Feia. Pesada. Machuca você por que machuca outros. Outros que você se importa, que você ama, que você nunca gostaria de machucar.

Machuca por que não tem solução, não tem como compensar, voltar atrás.

Só há o perdão. E quanto a receber esse perdão você não pode fazer nada além de dizer com toda sua sinceridade o quanto sente muito, o quanto sabe que nada justifica e que vai conviver com o que fez pela vida inteira, o quanto isso te deixa acordado pela noite assombrado. Você toma essas atitudes, entrega na caixa de correios e espera um dia, um dia, o remetente te responder de volta com um "Eu te perdoo". E mesmo assim ainda tem o processo de SE perdoar, que talvez nunca aconteça. Parece mais uma questão de fé acreditar que tudo vai dar certo, quando a realidade pode te responder o que você não quer ouvir. As chances são bem altas.

O que eu quero fazer quando me levantar é acreditar que eu não sou o que me machuca e machucou os outros hoje. Eu não posso negar o fato que cometi erros, mas eu não sou eles, eles não podem definir o meu caminho. Eu não posso deixar eles de lado, mas posso usar eles como uma razão para tomar atitudes novas.

Eu, uma semana antes do ano novo, cerrava meus punhos com um pensamento que era como um sinal constante, uma pulsação: Eu preciso ser melhor. Eu sempre precisei. Então eu agora me pergunto, mesmo pensando que não estou preparado para me levantar (ou talvez não queira, afinal eu não vou esquecer da queda mesmo caminhando): Como isso pode me fazer ser melhor?

Eu faria tudo pra o que tivesse acontecido nunca de fato, acontecesse. Eu me importo com quem machuquei e esse é o único motivo pelo qual eu estou assim como estou. Percebo agora que, depois de ter feito a última pergunta e ter escrito esse parágrafo, ainda não tenho minha resposta.