Meu pai as vezes assobiava na rua, como se esquecesse do presente divorciado e voltasse ao tempo da juventude. Como se voltando para alguém, ele andava enquanto olhava para a morena da rua, e cantava:
-Mulher, se Deus não criasse você, Ele próprio custava a crer...
E o que o rosto virava tentando se fazer de díficil, o corpo brincava no ritmo do assobio. Meu pai era o garanhão da parada. E todo mundo cantava em coro:
-Formosa! Ele também sabe dançar e lá ele se vai...
Em uma vida tão díficil como essa, meu pai me ensinou a ser um cara mais leve. Ensinou a não ser ingrato, pois todos sabem sambar no compasso da canção e um dia vão embora, por esquecimento. Então no final ele sempre me fazia repetir:
-Tá acabada essa parada e agora cada qual no seu lugar. Se seguir os conselhos do seu velho Pinheiro, quem vai fazer o coro vai falar:
- Láia, laía...laíaláia...láia, láia.
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